Rapidamente, tentando evitar confusão, Silvio iniciou sua campanha pedindo aos eleitores que marcassem a opção “26 – Corrêa” nas cédulas: como faltavam poucos dias para a eleição, não havia tempo para trocar as cédulas de votação e alterar o nome do antigo candidato da chapa do PMB para o novo. Era um problema sério para qualquer candidato. Nada grave para afetar a luta de Silvio.
A escolha do PMB também foi inesperada: inicialmente, o apresentador concorreria pelo PFL, no lugar de Aureliano Chaves, mas Aureliano relutou em renunciar para dar lugar ao apresentador. Na época, Edson Lobão e Hugo Napoleão, ambos do PFL, queriam ver Silvio, filiado ao partido, concorrendo pela legenda. Como não conseguiram apoio da base, decidiram colocar o apresentador para concorrer no lugar de uma legenda menor, que não estivesse satisfeita com o desempenho nas pesquisas. Era o caso do PMB.
Outubro de 1989. A poucos dias das primeiras eleições diretas desde o fim do regime militar, Silvio Santos, provavelmente o maior apresentador da história da televisão brasileira, decidiu vir a público declarar que concorreria ao cargo máximo do país – o Homem do Baú sonhava se tornar Presidente da República. A decisão veio de última hora. O candidato havia decidido participar do pleito inesperadamente, concorrendo no lugar de Armando Corrêa, do PMB (Partido Municipalista Brasileiro).
Rapidamente, tentando evitar confusão, Silvio iniciou sua campanha pedindo aos eleitores que marcassem a opção “26 – Corrêa” nas cédulas: como faltavam poucos dias para a eleição, não havia tempo para trocar as cédulas de votação e alterar o nome do antigo candidato da chapa do PMB para o novo. Era um problema sério para qualquer candidato. Nada grave para afetar a luta de Silvio.
A escolha do PMB também foi inesperada: inicialmente, o apresentador concorreria pelo PFL, no lugar de Aureliano Chaves, mas Aureliano relutou em renunciar para dar lugar ao apresentador. Na época, Edson Lobão e Hugo Napoleão, ambos do PFL, queriam ver Silvio, filiado ao partido, concorrendo pela legenda. Como não conseguiram apoio da base, decidiram colocar o apresentador para concorrer no lugar de uma legenda menor, que não estivesse satisfeita com o desempenho nas pesquisas.
Silvio iniciava sua campanha, e não sem muito otimismo: as pesquisas já mostravam o Homem do Baú com 34% das intenções de votos, antes mesmo da oficialização de sua candidatura. Os bons números apontavam a confiança do eleitor no dono do SBT, a despeito de suas propostas um tanto vagas.
“Vou me assessorar com bons ministros. Tenho condições de fazer um bom governo”, afirmou numa entrevista. “Iria me assessorar muito bem, como faço nas minhas empresas. Iria ouvir as pessoas que entendem do assunto, e tratar de um assunto de cada vez, não iria querer resolver tudo ao mesmo tempo”, completava.
Seu discurso era sempre pautado em analisar possibilidades. Mesmo nas propostas em que Silvio já tinha posição definida, prevalecia um tom de indecisão.
“Eu pretendo sempre estudar o assunto. A gente não pode mudar ou fazer dependendo da nossa vontade. A gente só pode mudar ou fazer dependendo das circunstâncias”, respondeu sobre o salário mínimo. “Eu acho que o salário mínimo do Brasil é uma coisa ridícula. […] Quem trabalha 8 horas por dia, no final do mês precisa receber um salário mínimo, o mínimo que seja suficiente para sustentar uma esposa e dois filhos. Agora, o quanto, eu não posso dizer. […] O quanto é estudar quanto um chefe de família com esposa e dois filhos deve ganhar no final do mês para trabalhar e viver com dignidade.”
Silvio propunha um governo com 5 metas: a primeira seria acabar com a inflação, seguida de uma valorização do salário mínimo. Depois viriam melhorias no sistema de saúde, de habitação e de educação. Apesar de metas bem definidas, o apresentador sempre esquivou-se em dar maiores explicações. “Vou me assessorar com pessoas competentes”, respondia.
Assim como Fernando Collor, Silvio procurava fugir dos esteriótipos de direita, esquerda ou centro. Quando questionado, resumia-se em dizer que “seria o candidato dos homens de bem, pois bem atrai bem. Não estou preocupado com direita ou esquerda.”
Esse vácuo nas propostas dificultam analisar quais seriam suas reais intenções na disputa. Em entrevistas, o empresário costumava argumentar que não estava entrando pelo poder, e sim, porque sentia “uma força chamando para participar da presidência”.
Mesmo com as indecisões é possível prever algumas mudanças que ocorreriam no Brasil caso o Homem do Baú tivesse assumido o Planalto.
Em 1989, o PT de Lula já era um dos partidos mais populares do país. Antes de Silvio entrar para a disputa, o metalúrgico já surgia como o segundo colocado, atrás apenas de Collor. Como a história contaria, o segundo turno seria disputado voto a voto.
Desta forma, caso Silvio tivesse encerrado o pleito como vencedor, Lula poderia eleger-se com facilidade em 1994.
A razão é simples: sem Collor no poder, Itamar jamais teria sido presidente do país. Sem Itamar, Fernando Henrique muito possivelmente nem entraria na disputa e, mesmo que entrasse, não teria o apelo popular obtido graças às suas medidas. As eleições seguintes também confirmariam a tendência: mesmo sendo derrotado, a porcentagem de votos de Luiz Inácio só cresceria, saindo de 16%, em 1989, para 27% (em 1994) e posteriormente atingindo 31% (em 1998).
Com isso, considerando-se que nenhuma liderança mais forte surgisse e que a influência de Collor não crescesse, seriam grandes as chances de que Lula tomasse o poder em 1995, sucedendo o Homem do Baú. Sem Collor, sem Itamar e, consequentemente, sem Fernando Henrique, a nossa moeda também teria uma história diferente e hoje possivelmente não teríamos o Real em nossas carteiras. Tripé macroeconômico? Quem poderia dizer?
Silvio nunca explicitou como pretendia controlar a inflação – afinal, ia deixar para decidir depois das eleições, reunindo-se com “especialistas” –, o que torna difícil especular sobre o que o apresentador faria se estivesse sentado no Planalto. Olhando para o passado, seria mais fácil que ele repetisse as medidas dos governos anteriores, apenas cortando zeros do Cruzado e tentando estabilizar a moeda já em curso. Ou possivelmente estabelecesse um padrão ouro no país. Afinal, barras de ouro valem mais que dinheiro.
Outra medida que poderia não ter sido adotada seria a da revogação da Lei de Informática.
A lei, criada durante a ditadura, visava “proteger a indústria nacional” e limitava as importações de diversos equipamentos eletrônicos. Como qualquer medida protecionista, serviu somente para alimentar lobbystas e estagnar o avanço da tecnologia no país – peças de hardware e até equipamentos robóticos industriais, muitas vezes sem equivalentes produzidos no Brasil, precisavam esperar meses ou anos antes de terem a importação autorizada. Para nosso alívio, a lei foi revogada durante o governo Collor, por ordem do próprio.
Até mesmo o Fusca seria afetado pela presidência de Silvio Santos: uma das mais marcantes medidas do governo Itamar foi o lançamento de uma reedição do Fusca, que ficaria conhecido como “Fusca Itamar”. Lançado 1993, o carro foi fruto de uma parceria do governo com a montadora Volkswagen, que reativou as linhas de produção do modelo, paradas desde 1986. Caso o candidato do PMB e seu vice tivessem assumido o governo no lugar de Collor e Itamar, o Brasil teria 46 mil Fuscas (o total de “Fuscas Itamar” produzido)? Difícil dizer, não da para afirmar com tanta certeza se a mesma ideia de subsidiar a produção de um carro popular passaria pela cabeça de Silvio – por que não um Fusca do Milhão?

De qualquer forma, a ideia de Silvio Santos em disputar as eleições não foi adiante.
Assim que anunciou a entrada na disputa, em 4 de novembro, o apresentador foi combatido com todas as forças por seus adversários. Os 34% de intenção de voto – que se mantiveram na casa dos dois dígitos nas pesquisas posteriores – chamaram a atenção de Collor, Brizola, Lula e dos demais candidatos.
Na mesma velocidade em que sua popularidade disparava, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a receber pedidos de impugnação da candidatura. A maioria dos pedidos argumentava que Silvio era dono do SBT e, portanto, estaria numa posição injusta na disputa, o que foi chamado como “abuso de poder econômico”.
Mas a Justiça descobriu que o buraco era mais embaixo: o PMB estava atuando ilegalmente na disputa, pois contava somente com um registro provisório que já havia vencido e seus dirigentes ainda não haviam cumprido todas as obrigações legais.
Após receber 17 pedidos de cassação da candidatura, o TSE decidiu por unanimidade, após longos debates – no dia 9 de novembro, a menos de uma semana do pleito – suspender a candidatura do número 26, anulando o registro do Partido Municipalista Brasileiro, que não havia feito as nove convenções estaduais, requeridas por lei.
Terminava ali a breve e turbulenta carreira política do maior apresentador da televisão brasileira. A disputa presidencial voltaria a seus rumos. 6 dias depois, Collor e Lula foram escolhidos para participarem do segundo turno, que sagraria Fernando Collor de Mello: era o início de um governo marcado por frustrações econômicas, revoltas, o assassinato do homem que controlava o seu baú, impeachment e Fuscas.
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